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Reflexão #15 - Uma semana de volta no Brasil



Já faz uma semana que cheguei de volta na minha realidade, no meu país, e naturalmente muita coisa na cabeça.


Depois desses 400 dias conhecendo outros mundos, parece que fiquei mais aberto a ouvir e querer entender tudo. O que não é exatamente bom. Tenho a impressão de que não saber de todos os problemas deixa você mais feliz com a vida. Mas espera, não posso saber a verdade? Acho que devo, mas filtrar o tipo de informação que você vê, ouve e lê dita a forma como você vive o seu dia, mesmo porque é impossível saber de tudo.


Viajando eu estava mais imune ao bombardeio de informações pelo idioma claro, mas essa semana, sendo capaz de entender o que todos falam e o que contam as notícias ficou difícil ficar em paz de espírito.


Não estou dizendo que tudo o que vi no último ano em 110 cidades foram só ações de desenvolvimento social e coisas positivas. Vi muita desigualdade desesperadora e muita gente querendo tirar vantagem, mas São Paulo eu conheço e dói mais ver isso aqui. Durante o último ano em raras situações fiquei incomodado por estar em perigo e, efetivamente, não sofremos violência alguma. Entretanto, o primeiro dia dessa semana que sai de carro sozinho, estava com muito receio, não levei o computador, ficava olhando pros lados o tempo todo e sai muito antes com medo do trânsito. Estranho isso tudo!


Compartilho o que eu tive que ouvir várias vezes e acabou ficando na minha cabeça desde que cheguei:

  1. Quais são os problemas no governo, quem é corrupto e onde, quem errou o que, porque estão fazendo um trabalho ruim, que tal o impeachment, especulações de porque o dólar subiu e da derrota do novo plano fiscal;

  2. Um jovem de dezesseis anos matou um amigo na escola com estilete, uma criança caiu da janela do apartamento e que o helicóptero da polícia parou de funcionar no meio de uma grande avenida, bloqueando o trânsito por três horas;

  3. A presidente parou de bicicleta pra acompanhar o socorro de um ciclista acidentado e pessoas ficaram na fila do Rock in Rio por uma semana só pra entrar primeiro;

  4. Quem fez gol em quem, que time está melhor e quais os próximos jogos. – Comecei a dar razão para as centenas de pessoas ao longo da viagem que ouviam que somos do Brasil e só diziam “ah, futebol né”, pois é só isso que funciona aqui.

O que fica é que parece que o Brasil está colapsando, que não tem nada de bom, nada funciona e que a solução para sua felicidade é gostar de futebol, que seu time ganhe e arrumar um ingresso pra ir ao Rock in Rio. E claro, cada um por si.


Quando você pode entender tudo a sua volta, as informações te colocam pra baixo, está tudo ruim e em breve o mundo vai acabar.


Quantas vezes ouvi discussões sobre a solução da corrupção com ideias concretas? Quantas pessoas entendem quando é correto fazer um impeachment e o que aconteceria no dia seguinte da saída da presidente? Quantas campanhas pra você não usar o acostamento, usar sua bicicleta e não ter que pagar R$30 pra comprar uns pãezinhos na padaria? Nenhuma e em uma hora tentando escutar notícias úteis no rádio, tive que acreditar vinte vezes que eu realmente preciso comprar toalhinha umedecida numa drogaria específica porque o preço é o melhor.


Pra escutar uma conferência sobre desenvolvimento urbano e pobreza – que conta sobre planos que melhoraram a vida na favela e reduziram a violência através da educação de jovens – tive que achar o site e ter uma boa conexão de internet pra acompanhar. Ou seja, haja esforço para acessar uma informação relevante. O que precisamos fazer para líderes comunitários serem capa da Veja e inspirar a mudança que precisamos? Talvez falte lobby em tudo, se não existir algum interesse…


Reitero que minha crítica não é acreditarmos que está tudo bem e que vivemos num conto de fadas de uma cidade maravilhosa, – até porque essa é só o Rio de Janeiro (que nem é…) – mas e ai, queremos melhorar algo e falar sobre isso?


O lindo disso tudo é que tenho certeza que todos querem sim melhorar e fico aqui, no Brasil, pra trabalhar nisso como eu puder e mantendo a positividade da esperança! Tudo no seu ritmo mais vai melhorar, é só abrir os olhos.


Ah, futebol eu gosto hein, é só me chamar pra jogar, mas sem camiseta de time e sem cobertura nacional, por favor…


Felipe.

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