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Reflexão #8 - Sobre os problemas do mundo



Há tempos eu descobri que a vida segue exatamente pro caminho que a gente escolhe guiá-la. Parece mais um daqueles clichês, mas eu sou a prova de que isso é real.


Em 2011 eu vivia um momento esquisito. Trabalhava muitas horas e sempre parecia ser pouco. Quase não tinha tempo pra minha família e os meus amigos, que já namoravam, pareciam não ter muito tempo pra mim. Eu tinha medo. Medo de ficar sozinha, de não ter dinheiro, de não poder trabalhar, comprar, viajar. Foi quando eu resolvi tirar férias e realizar o meu sonho de ir pra Índia sozinha.


Torrei minha poupança e parcelei em 12 anos, tipo casa própria hahaha mas algo me dizia que compensaria. Foi um mês viajando pelo Rajastão, conhecendo templos, sendo atropelada por vacas e confundida com reencarnações de deusas hindus. Mas muito mais do que isso, foi o mês em que eu, sozinha, me esqueci dos meus medos, aprendi a cuidar de mim mesma e gostar da minha companhia.


Voltei de lá diferente e confesso que eu ainda me perco na hora de enumerar todas as mudanças, mas uma delas é muito clara. Descobri que a beleza está, única e exclusivamente, nos olhos de quem vê.


É curioso porque sempre temos dois caminhos a seguir, o que te traz serenidade, harmonia e felicidade e o que te impregna de energia negativa, estraga o seu dia, te afasta das pessoas e tira o seu sono. Somos nós quem escolhemos o que queremos receber.


Na índia isso ficou muito claro. Eu podia ter reparado apenas no lixo espalhado por todos os cantos e nas crianças pedindo comida no farol. Eu podia ter me movido pelo medo de ser uma menina, bastante brasileira, sozinha em um país como aquele, mas por algum motivo não foi isso que marcou a minha memória. Eu consegui ver a beleza das mulheres em suas roupas coloridas e da simplicidade com que manifestam sua fé. Eu escolhi enxergar isso, mesmo com dezenas de outros fatores chamando a minha atenção. É claro que nem sempre essa escolha é clara e fácil de fazer, mas ainda assim é possível extrair uma bela lição dela.



Pra você que já acorda se lamentando, que deixa comentários ofensivos na internet, que inflama o ódio com opiniões vazias, que coloca a culpa do mundo em um partido político, que cria intrigas no trabalho, inveja a alegria da amiga, espalha preconceito e intolerância e faz sempre questão de julgar e criticar mesmo quem você não conhece, aqui vai um aviso: você precisa de mais beleza no olhar.


Eu desconfio que antes de ir pra lá eu pudesse estar caminhando ao encontro desse time ai de cima. Acreditava que não existia amor verdadeiro, que trabalho era só pra ganhar dinheiro e só gente rica podia se dar ao luxo de viajar e escolher trabalhar com o que gosta. Também não perdia muito tempo construindo minha própria opinião ao invés de seguir com a maré. Eu estava virando craque em desmerecer a beleza alheia e subestimar o valor de tudo que me parecia ser difícil – ou fácil – demais de conseguir.


Resumindo, eu era chata pra $&@!. Minha irmã costumava me dizer isso quase todo dia… Pena que eu demorei pra entender. Inclusive, gostaria de agradecer publicamente minha família e minhas amigas pela compreensão e paciência. Vocês já têm lugar no céu.


Mas que bom que eu tive a chance de passar uns dias só comigo mesma e perceber que poderia escolher entre ser insuportavelmente mala ou tentar ser uma pessoa agradável, respeitando minha personalidade, meus gostos e minhas habilidades. Eu preferi seguir com a segunda opção e acabei me tornando bem amiga de mim mesma. Comecei a me achar engraçada e uma ótima companhia de viagem, principalmente depois que eu criei uma vozinha de desenho animado que virou tipo um amigo imaginário, mas não quero falar muito sobre isso porque pode comprometer a minha carreira política no futuro.


Voltando ao que interessa, eu concluí que podia enxergar beleza em tudo, mas eu precisava estar aberta pra isso. Toda pessoa e toda experiência é, em grande parte, reflexo do que a gente enxerga. Mais que isso, é reflexo de como a gente se enxerga e escolhe enxergar o mundo. Gente amargurada, infeliz, confusa e frustrada projeta maus sentimentos em que está por perto e isso cria um ciclo de energia sempre negativa, afinal, você recebe do universo exatamente aquilo que oferece a ele.


É um estilo de vida, que depois que começamos a praticá-lo torna-se natural e fluído. Toda moeda tem seus dois lados e podemos escolher a importância que damos a cada um deles e a lição que podemos levar com isso.


Ao longo desses anos e dos últimos meses, eu percebi que a felicidade pode ser um sentimento permanente, que varia entre picos de euforia e serenidade contínua. Eu não sou cientista, psiquiatra, nem psicóloga e essa é a minha humilde opinião pessoal baseada no pouco que aprendi até agora.



Tudo isso foi pra contar sobre a minha teoria que justifica os problemas do mundo. Para mim a causa de tudo de ruim que nos acontece é uma combinação de dois fatores: não amar a si próprio ou o companheiro que escolheu + não ter paixão pelo trabalho.


Começo pelo primeiro ponto. Quem ainda não aprendeu a amar a si mesmo está sempre em busca de algo que o complete e a maneira mais fácil de conseguir isso é seguindo aquele checklist que o senso comum desde sempre nos ensinou como sendo o “normal” a se fazer, mesmo que isso não te faça sentir uma alegria arrebatadora…


Isso explica muito dos problemas, principalmente quando paramos pra observar as culturas em que o casamento se trata muito mais de uma aliança político-econômica do que de uma história apaixonante.


Quem não ama a própria companhia e não reconhece suas qualidades e vontades, acaba sempre incomodado com aquelas perguntas inconvenientes da tia no almoço de domingo e pode acabar sozinho e amargurado ou, na pior das hipóteses, juntando escovas de dente com alguém que surgiu pelo caminho trazendo a mesma angústia. No final, a verdade é que não tem nada melhor do que a liberdade e a leveza de ser você mesmo, estando sozinho ou com o amor da sua vida (que aparece quando você já se ama!).


O meu segundo ponto é na mesma linha. Somos estimulados a escolher nossa profissão muito cedo, seja por necessidade ou por oportunidade, o que muitas vezes sequer nos dá a chance de pensar sobre de que forma realmente gostaríamos de servir ao mundo.


Afinal, o trabalho é a forma mais digna de servir ao próximo, colocando seu dom, seu talento e sua paixão à disposição de quem dele precisar. Eu adoraria poder dizer a todos os garçons, motoristas, médicos, engenheiros, jardineiros e a todas as outras milhares de profissões que seguem por ai, o quão mágico é o trabalho deles. A chance do garçom de transformar uma refeição solitária em um momento de prazer e gentileza e a do motorista em conduzir gentilmente dezenas de corações apaixonados, preocupados e ansiosos são coisas que provavelmente não passam pela cabeça das pessoas, mas se passarmos a enxergá-las como sendo a manifestação do melhor de cada um, dá a impressão de que se pode mudar muita coisa, né?


Já que é pra sonhar com o ideal, imagina se todos os funcionários públicos compreendessem que a eles é confiada a missão especial de zelar pelo que é de todos nós e nos tratar com a dignidade que todo e qualquer cidadão merece.


Mas ainda não dá pra esperar isso de quem não ama o que faz ou não compreende que estamos todos a serviço uns dos outros, invariavelmente.



Gente que não ama a si mesmo, o companheiro ou o trabalho tem uma tendência a ser baixo astral, emburrado e buscar no dinheiro, no poder e nas coisas materiais. Tudo aquilo que se ganha gratuitamente quando nos permitimos sentir e receber o amor verdadeiro e genuíno. Essas pessoas são movidas pelo medo. Aquele mesmo medo que eu tinha… de ficarem sozinhas, de não terem dinheiro, de não serem reconhecidas… Medo de sair da zona de conforto e se lançar a algo novo que traz recompensas valiosas para alma e não para o bolso. São essas mesmas pessoas que extravasam seus vazios com comentários maldosos na internet, brigas no trânsito, corrupção, guerra, individualismo e tudo aquilo que nos faz perder a fé na humanidade.


Mas ai você resolve dar uma chance pra essa tal de “beleza no olhar” e começa a se esforçar pra ver o lado bom de cada experiência. Deixa de julgar, de invejar, de se omitir, se corromper e começa a enxergar um novo reflexo no espelho, que te traz serenidade, harmonia e novos olhos brilhantes.


Passa um pouco mais de tempo e você agora aproveita da sua companhia e descobre que não existe metade da laranja. Eu A-DO-RO Fabio Jr., mas ele há de convir comigo que essa história de metade da laranja cria um medo absurdo de ficar ali esperando a outra parte que nunca chega. Quando a gente se percebe completo, o melhor que temos a receber é alguém/algo que nos faça sentir vivos e prontos pra presentear o mundo com tudo o que reconhecemos de melhor na gente.


A gente é uma laranja completa e o que precisamos mesmo é só de um belo espremedor que consiga tirar o nosso melhor.


Esse espremedor costuma vir na forma de um amor companheiro, por si mesmo e também por outra pessoa, e um trabalho honesto. E por honesto eu quero dizer aquele trabalho que te permite manifestar seus reais talentos e paixões.



Ai você tá feito! O amor voltou pra sua vida e você se reapaixonou. Pra mim, não tem nada mais simples, corajoso, verdadeiro e solidário do que viver uma paixão. Gente apaixonada se diverte com pouco, ri de qualquer bobeira, se acha lindo, acha o mundo todo lindo e deseja que todos possam compreender esse sentimento. Gente que faz o que ama não foca no dinheiro e a recompensa é tão maior, que precisa de muito menos pra se viver.


Por favor, sem aquele papinho de “trabalhar com o que gosta é coisa pra gente rica”. Se você pensa isso, volta pro primeiro parágrafo e começa a ler de novo. Trabalhar com o que gosta é pra quem se ama além das aparências e aprendeu que acumular bens e dinheiro é uma coleira que nos prende a obrigações e desejos que, definitivamente, são efêmeros e substituíveis. Se tiver dúvidas de que isso é possível, os personagens das experiências deste site comprovam isso. Quanto mais amor pelo que se faz, menos importante o dinheiro é pra sua vida.


Por isso eu acho que gente apaixonada, verdadeiramente apaixonada, quer mais é que o mundo inteiro se apaixone, assim não vai ter ninguém com dor de cotovelo.


E é justamente essa dor de cotovelo que é, pra mim, a raiz de todos os problemas do mundo. Gente apaixonada por si mesmo, pelo namorado/marido e pelo trabalho não se deixa consumir por pensamentos negativos. A cabeça está ocupada demais adorando o simples, suspirando alegria, compartilhando sonhos e tentando resolver os problemas que surgirem com leveza e otimismo.


Enfim, gente que ama não deseja pro outro nada que não seja amor. E amor é abundância. Transborda e nunca deixa faltar dinheiro, alegria, esperança, fé, generosidade e gratidão. Quem crê no amor, pratica o amor e oferece amor cria um campo de colheita que só gera frutos do bem. A gente se sente capaz e amparado por uma força maior. A força do amor mesmo.


Gente que ama enxerga o mundo diferente, com mais cor, mais verdade, mas humildade e mais beleza.


Afinal, a beleza está nos olhos de quem vê. E eu vejo amor em você.


Gabi.

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